30 de dezembro de 1991
Querido amigo,
Um dia depois de ter escrito pra você, terminei O apanhador no campo de centeio. Desde então, li o livro três vezes. Não sei bem que outra coisa posso fazer. Sam e Patrick finalmente voltam para casa hoje à noite, mas não irei vê-los. Patrick vai se encontrar com Brad em algum lugar. Sam vai sair com Craig. Eu os verei amanhã no Big Boy e depois na festa de Ano-novo do Bob.
O que está me empolgando é que eu mesmo vou dirigir o carro até o Big Boy. Meu pai disse que eu não podia dirigir até que o tempo melhorasse, e finalmente ficou um pouco melhor ontem. Gravei minha fita para a ocasião. É chamada "A Primeira Vez que Dirigi". Talvez eu esteja sendo sentimental demais, mas prefiro pensar que, quando eu estiver velho, vou poder olhar todas essas fitas e lembrar das vezes em que dirigi o carro.
Na primeira vez em que dirigi foi para ver a tia Helen. Foi a primeira vez que fui vê-la sem a minha mãe. Fiz com que fosse uma ocasião especial. Comprei flores com o dinheiro que ganhei no Natal. Cheguei a gravar uma fita e a deixei no túmulo. Espero que você não pense que eu sou esquisito por causa disso.
Contei toda à minha vida à tia Helen. Sobre Sam e Patrick. Sobre os amigos deles. Sobre minha primeira festa de Ano-novo amanhã. Contei a ela sobre como meu irmão jogaria sua última partida de futebol da temporada no dia de Ano-novo. Contei a ela sobre meu irmão partindo e como minha mãe chorou. Contei a ela sobre os livros que eu leio. Sobre a canção "Asleep". Contei a ela de quando nós nos sentimos infinitos. Sobre mim mesmo, obtendo minha carteira de motorista. De como minha mãe nos trouxe aqui. E como eu dirigi na volta. E como o policial que aplicou o exame não parecia estranho nem tinha um nome engraçado, o que para mim pareceu trapaça.
Lembro que quando eu tinha acabado de dizer adeus à minha tia Helen, comecei a chorar. Foi um choro muito verdadeiro também. Não do tipo aterrorizado, que eu tenho muito. E prometi à tia Helen só chorar por coisas importantes, porque eu odiaria pensar que chorar como eu sempre faço diminuiria a importância desse choro pela tia Helen.
Depois eu disse adeus e voltei para casa.
Li o livro de novo nesta noite porque eu sabia que, se não o fizesse, provavelmente começaria a chorar novamente. O do tipo aterrorizado, eu quero dizer. Li até que fiquei completamente exausto e tive de ir dormir. Pela manhã, terminei o livro e depois comecei imediatamente a lê-lo de novo. Qualquer coisa para não sentir vontade de chorar. Porque eu prometi à tia Helen. E porque eu não quero começar a pensar novamente. Não como eu fiz na semana passada, não posso pensar novamente. De novo, não.
Não sei se você já se sentiu assim, querendo dormir por mil anos. Ou se sentiu que não existe. Ou que não tem consciência de que existe. Ou algo parecido. Acho que querer isso é muito mórbido, mas eu quero quando me sinto assim. É por isso que estou tentando não pensar. Só queria que tudo parasse de rodar. Se ficar pior, eu terei de ir ao médico. E teria aquela coisa ruim novamente.
Com amor,
Charlie.
~rod
Olá, bom, no começo fiquei um pouco confusa mas depois me entendi. E não nego, até me identifiquei em algumas partes. Já prometi chorar só por coisas importantes e sei que é difícil.
ResponderExcluirGostei mesmo da postagem da carta ;)
E ah, estou seguindo!
Beijos,
Larissa
- Vitamina de Pimenta -
Olá Larissa, muito obrigado pelo seu comentário, você ja leu o livro As vantagens de ser invisível? As cartas são retiradas de lá, é um ótimo livro :)
Excluirp.s.- adoro o seu blog.
~rod